sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Será que nos conseguiremos livrar algum dia dos recibos verdes?

Ontem cheguei a casa e apeteceu-me ser irónica. Pensei: “Deixa-me cá armar em engraçadinha e dizer umas quantas coisas com as quais não concordo. Vai cair-me meio mundo em cima, mas isto pretende ser, no fundo, uma caricatura ou, se preferirem, um olhar da perspectiva das pessoas que estão do outro lado. Que lado é esse? Olhem, meus Fofos (permitam-me a ousadia de me dirigir a vocês desta forma), não faço ideia, porque nunca lá estive. Já ouvi falar e já vi, por isso que o há, há… agora o resto…

Então, após um exercício muito árduo e de as minhas entranhas darem umas quantas voltas concluí o seguinte (isto agora é outra gaja vestida de azul que vos fala, digamos que esta é mais vestida de amarelo ou coisa parecida):


1- Não tenho que passar pevide ao meu patrão, porque na realidade não tenho patrão. Mesmo que haja uma pessoa com um papel parecido ao que o senhor acima referido desempanha, normalmente não merece muito do nosso respeito porque há sempre coisas importantíssimas que ele não sabe ou faz: saber o nosso nome, saber se o nosso trabalho está a correr bem ou até esquecer-se de pagar o nosso ordenado. Ah pois é, meus amigos. Mas há mais vantagens. Senão vejamos:


2- Com um patrão destes e tarefas da treta, e já que estamos a recibos verdes, podemos mandá-lo dar uma curva quando quisermos. Ou melhor ainda, vamos nós dar uma curva.

3- Não há espaço para a hipocondria. Ah pois é. Não há baixa, não há doenças para ninguém.

4- Não temos o stress de pensarmos onde iremos passar as próximas férias ou que presente daremos à família e amigos no próximo Natal, porque não temos aquelas coisas que parece que alguém recebe não sei quando e que agora não me ocorre o nome.


5- Chega-se à altura do verão e recebe-se uma batelada de dinheiro que espatifamos em menos tempo que o diabo esfrega um olho.


E possivelmente haverão mais benefícios, pois concerteza que sim. Alguém se lembra de mais?

3 comentários:

daniel disse...

ah aha pois é devias tar com diabetes para dizeres uma cena dessas. aha ha aha

José Daniel Ferreira disse...

Há mais coisas maravilhosas para os sortudos que preenchem recibos verdes.
Primeiro, és trabalhador por conta própria ou dito trabalhador liberal. O que não é mau. Numa era onde o fascismo saudosista está em recrudescimento - lembrem-se que o Salazar ficou em primeiro lugar no Português Mais Querido, ou lá o que é - ser-se liberal é ser-se rebelde.
Depois, não precisamos de fazer Soduku. Ao preencher o recibo verde, temos de fazer muitas contas com percentagens - que eu não aprendi na escola secundária, logo posso intitular-me auto-didácta -, subtracções e somas. Mesmo que sejamos da área de letras, podemos dizer que somos matemáticos. Preencher recibos verdes é gimnasticar o cérebro.

Depois somos obrigados a lidar com a IVA (eu, como pertenco à comundidade arco-iris, sugeria que se mudasse o nome para Ivan ou Ruben, ou até mesmo Sandro... se é para ser nome mau, que o seja a sério e, no meu caso, que seja nome de gajo... não à discriminaçáo sexual nos recibos verdes). E ao lidar com a IVA, mais não somos que intermediários de droga... entre o Mafioso (o nosso patrão) e o Consumidor (o Estado.

Por fim, vem a parte filosófica (lembram-se que já temos a parte matemática). Sempre que há problemas com os recibos verdes, vamos a uns sitios - chamados Direcção Geral de Finanças - tentar perceber como resolver o assunto. Aí somos confrontados com pessoas de um nivel intelectual muito avançado que falam horas a fio connosco, explicando o cerne do nosso problema e avançando soluçoes. Mas o que acontece é que nós, meros passadores de recibos verdes, temos de assimilar toda aquela informação e processá-la intelectualmente, levando-nos sempre às eternas perguntas filosóficas: Quem Sou Eu, Para Onde Vou, O Que Faço Aqui. Normalmente resolvemos ir ouvir uma segunda opinião, noutra Repartição de Finanças, onde a pessoa intelectualmente avançada que nos atende responde outras coisas igualmente elaboradas e em anda semelhantes ao que a anterior disse. Isso leva-nos a reflectir mais uma vez, colocar tudo em causa, leva-nos do caos para uma suposta ordem. Ou leva-nos para outras questões de indole filosófica: Quem, Onde, Porque e Como.
Ser-se de recibos verdes é ser-se também um Manuel Maria Carrilho, mas sem a Bárbaro Guimarães.

Mas acima de tudo, ser-se dos recibos verdes é ter-se esperança (o verde é a cor da esperança) de que um dia o deixaremos de ser.

Bluedressed disse...

Ora nem mais. É o constante aprender para melhorar, o partilhar o gosto pela busca da perfeição que me faz adorar este modo de vida.

Pois partilhemos todos de mãos dadas, aproveitemos esta oportunidade para, em comunhão, rumarmos em direcção a um eu melhor.